quinta-feira, 14 de agosto de 2014

#sermenina

Num regresso à capital, entrei no comboio (um pouco cheio para o habitual) e sentei-me ao lado de uma senhora que foi simpática e desviou um dos muitos sacos que trazia consigo para eu ter o lugar. O comboio começou a andar e, dado que me esqueci do livro da Oprah que ando a ler, decidi organizar a carteira – há que aproveitar o tempo útil.

Três paragens depois, entra uma menina acompanhada pela avó. A menina, de seu nome Luana, tinha uns 7 ou 8 anos. Vestia uns calções de ganga, sandálias azuis e um top amarelo. Tinha óculos roxos e a pobre da sua avó carregava dois sacos que, pelo que dava para ver, tinham toda a tralha da Luana. Como sei o nome? Ora bem, para além de uma pulseira com o mesmo, a avó da menina teve de repeti-lo durante a viagem toda, porque a dita era muito faladora. Começou por pedir à avó que lhe desse os óculos de sol, obviamente eram cor-de-rosa com hastes brancas e de um tamanho exorbitante (estilo Paris Hilton). Começou a trocar dos óculos de ver roxos para os óculos de sol cor-de-rosa umas trinta mil vezes, enquanto comentava que nenhuns assentavam bem. Depois decidiu examinar-me – devo ter ar de pirosa – olhou, olhou e voltou a olhar e decidiu segredar para a avó “eu tenho lá em casa uma pulseira igual à daquela menina”. Eu tentei fingir que não ouvi e continuei a olhar pela janela. De repente, a Luana queria um jogo. Pediu à avó que lhe respondeu que não podia ser, pois estava num fundo de um dos enormes sacos que carregava. Ela amuou e disse que ia dormir. Compôs a sua mochila cor-de-rosa, colocou os óculos de sol a condizer e fingiu adormecer. A avó ralhou, dado que estavam a chegar ao destino e tinham de sair. A Luana contrariou, pois estava com muito sono. Sono que, de repente, passou quando o senhor ao lado tirou o telemóvel do bolso. A menina lembrou-se que, também ela, tinha um telemóvel e pediu-o à sua avó. Pedido que, mais uma vez, não foi realizado pois o telemóvel estava no meio de todas as tralhas completamente inacessíveis. Luana insiste. Avó recusa. Luana amua. Avó diz que está na hora de saírem do comboio. Luana levanta-se com um sorriso como se nada tivesse acontecido e dirige-se à porta com o seu ar piroso e confiante. 

Isto é ser menina, viver numa confusão constante, ter desejos impossíveis de realizar, mas no final sair sempre por cima com um sorriso no rosto e um ar de quem vai vencer o mundo. 



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