quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

#lojadoschineses

Vim passar uns dias à terrinha, ou melhor, vim passar umas férias à casa de campo (é mais chique). A calmaria é tanta que quase me atrevo a dizer que tenho saudades dos autocarros da Carris - não, estou a mentir. É impossível sentir saudades desses malditos amarelinhos. 

Depois de ontem ter estado enfiada no meu pijama o dia inteiro a desfrutar do meu querido sofá que já tinha saudades de me ter por cá, hoje decidi ir dar uma volta. As lojas não abundam por aqui, não há cá nenhum Colombo com pessoas a trepar umas por cima das outras. Porém, cá existem milhentas lojas dos chineses. Acho que é um defeito geral do nosso país. Defeito esse que dá jeito quando se precisa de um escorregador para a loiça ou de um par de collants. Este universo chamado lojas dos chineses, ou lojas do chinês, ou simplesmente chineses, é um fenómeno que devia ser estudado. Abrem como se fossem cogumelos a nascer e nunca fecham, apenas mudam de lugar. Para além disso, têm de tudo. 

Na minha voltinha lá entrei numa destas malditas que roubam a clientela aos tugas. Não tinha nada para comprar, foi só para me entreter. O cheiro a plástico é, talvez, a característica mais marcante. Mal se entra vem um bafo a fábrica de borracha misturado com cola UHU. Depois vê-se toda uma panóplia de produtos sobrepostos e amontoados em prateleiras. Existem secções. Na que entrei hoje começa por haver a secção das missangas, fios e adornos. Logo em frente as botas de todos os padrões e mais alguns, as bandoletes e as pochetes. A seguir vem a secção da roupa, desde a cueca de gola alta até ao avental com folhos. E, claro, cinco corredores de colorações para o cabelo, telas e brinquedos. Não há nada que não haja ali. Ainda por cima esta tem dois andares. Subi as escadas e fui ao segundo andar ver o que havia por lá... Desde colchões para campismo até perucas para o Carnaval. Voltei a descer as escadas enquanto pensava que não podia haver mais nada. Não é que me enganei e encontrei nos degraus aquelas placas de "vende-se" e "aluga-se" com espaço para escrever os números de telefone? É lá que a Remax vai comprar? Minha nossa.


domingo, 11 de janeiro de 2015

#arranjarasunhas

Eis que chega aquele momento da semana em que é fulcral tratar das unhas que foram perdendo bocados de verniz a cada dia que passa. Este não é um problema de quem usa gel, gelinho ou verniz gel e que vai à esteticista remediar o assunto. Este é o problema de quem as faz em casa e usa esmaltes do chinês ou da Risqué. Ao fim de contas vai tudo dar ao mesmo, embora para mim os melhores sejam os Andreia. Escolhas à parte, é impossível fazer durar o verniz, abre-se o botão do casaco vai um bocado de tinta, arranca-se uma fita de cola e vai outro, abre-se a gaveta e vai uma unha. Isto de ser mulher não é fácil e receio bem que alguns homens também já começam a ter esta preocupação. 

Pessoalmente adoro ter as unhas arranjadas. Quando não o tenho não mostro tanto as mãos e tendo a pintá-las em locais públicos. Não é nada chique, mas de vez em quando lá vai um retoque no autocarro. 

O "estou a arranjar as unhas" é um momento que deve ser compreendido como um ritual carregado de concentração e energia. Empurra cutícula daqui, puxa lima dali, põe verniz endurecedor além. Dá um trabalhão desgraçado e consegue consumir a paciência de qualquer uma. No final, quando temos as unhas impecáveis, pintadas de fresco e sem qualquer imperfeição, andamos de um lado para o outro de mãozinha esticada e a abrir portas com os cotovelos e os pés para não estragar nada. Depois acontecem situações complicadas, como estar tão aflita para fazer chichi que tem de se desabotoar as calças e estragar tudo. Ou também fechar o estojo dos mil acessórios utilizados para a tarefa, prender a unha no fecho e estragar tudo. Ou até mesmo ir lavar a porcaria do copo que ficou esquecido no lava-loiça e estragar tudo. 

Isto é complicado. É uma vida tramada, andar meia hora a tocar com a pontinha do lábio na unha do polegar para ver se já está seco e quando tocamos na mínima coisa já se foi o brio. Ich! Não há condições.

Fotografia: Inês CR

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

#usargorro

Quando o inverno chega, todas as revistas de moda se enchem de conselhos para parecermos fashion mesmo quando está um frio que faz arrepiar da unha do pé até à orelha. Mantas XXL para aqui, blusões para ali, botas para além... É uma panóplia de produtos que nos deixam de olhos em bico com os preços e nos fazem ansiar para que cheguem os saldos (nem vou falar bem desse assunto, porque da última vez que entrei no Colombo pensei que ia ser engolida por sacos e encontrões). 

À parte da tristeza de estarmos em crise e nem nos saldos dar para fazer uma extravagância na Zara, felizmente estou prevenida de roupa para o gelo. Ainda hoje quando acordei às 6h40 e me dirigi à rua às 7h00 estava preparadíssima para as mais baixas temperaturas de sempre. Calças, meias até ao joelho, botas, camisola segunda pele (é tipo collants em forma de camisola), camisola de malha de manga comprida, camisola polar por cima e, ainda, um casaco de fazenda. Para completar uma gola que dá três voltas, luvas com as mangas da camisola por cima e gorro. Não havia frio que se metesse comigo. Até parecia o boneco da Michelin sem conseguir fechar os braços. 

Sai de casa à pressa, sem olhar bem ao espelho. Mal abria os olhos. Entro no comboio e ainda estava tão escuro que as janelas em vez de darem para ver a rua, faziam de espelho. Quando dei de caras com a minha figura fiquei deveras surpreendida. E não, não estava resplandescente. Só nos filmes é que as pessoas acordam bonitas. Estava com ar de Calimero. O gorro não assentava bem, fazendo um altinho no topo da cabeça que parecia o ovo que o dito desenho animado usa. Para além disso, o volume corporal que se seguia do pescoço para baixo não ajudava e limitei-me a ver e calar. Já não havia nada a fazer...

Fotografia: Inês CR