quinta-feira, 30 de abril de 2015

#saladeespera

A experiência de permanecer numa sala de espera é sempre estranha. Na prática, ficamos num espaço limitado a quatro paredes, com sorte sentados numa cadeira, a ver os minutos a passar. 

Ontem tive essa experiência e mais uma vez pude comprovar que é algo mesmo estranho. Fui ao hospital com dor de ouvidos e de garganta (dados nada importantes, mas que decidi referir) e lá fiquei na sala de espera. A partilhar o momento com os outros doentes e a respirar devagarinho para que não inspirasse outras viroses. Há quem leia, quem converse, quem veja televisão. O Fernando Mendes com um barrete de campino, a comer chouriços que alguém do público levou é sempre uma boa distração para quem tem dores. Exceto para quem tem dores de cabeça. Aí as palmas entusiásticas do público e, em especial, da participante do programa de ontem, dão cabo de qualquer um.

Atividades há muitas. Quando se partilha o espaço com estranhos há sempre que ocupar a cabeça para não cair na tentação de ouvir conversas alheias. Para além de que tentar falar com uma pessoa que tem a cabeça partida ou está a arder em febre é um passo arriscado.

Para minha felicidade fui atendida muito rapidamente. Tão rapidamente que nem tive tempo para perceber quem é que ganhou a montra final. 

Fotografia: Inês CR

sexta-feira, 24 de abril de 2015

#desejosefome

O título poderia ter sido "desejos vs. fome", mas eu acho que estas duas palavras não são antónimos nem adversárias. O meu estômago diz-me que andam de mãos dadas. 

Ainda ontem, depois das aulas, entrei no autocarro e cheirava a batatas fritas de milho. São umas em forma de cone que deixam os dedos laranja. E cujo sabor é tão bom que torna impossível parar de comer. Olhei para o lado e lá estava uma menina a comer as ditas batatas. Era hora de jantar e apeteceu-me arrancar aquela bomba de colestrol das mãos da passageira e fugir porta fora. 

Isto acontece sempre. Quem é que consegue não ter desejo de fritos quando passa por um restaurante com aquele cheiro horrível a óleo que se entranha na roupa e permanece durante 15 dias? Quem é que consegue dizer 'não me apetece pipocas' quando passa nas bilheteiras do cinema? Quem é que recusa pão caseiro depois de passar snifar aquele aroma a quentinho acabado de fazer? NINGUÉM! E se alguém consegue é porque nasceu em Marte ou tem problemas de congestionamento nasal.

Ser humano que se preze vê, cheira, ouve ou toca em comida e ambiciona sentir-lhe o paladar. É quase tão certo como chorar na cena do Rei Leão em que o Mufasa morre. 

Fotografia: Inês CR

terça-feira, 14 de abril de 2015

#top10 | Pessoas que vão ao supermercado

No último #top10 falou-se de pessoas que andam de transportes públicos, neste fala-se de pessoas que vão ao supermercado. A lista é extensa, mas afinal todos precisamos de comprar papel higiénico.

1) Os snifadores
Precisam de três limões, cheiram os limões. Precisam de shampoo cheiram o shampoo. Precisam de alface, cheiram a alface. Esta espécie de compradores utiliza o olfato como arma para detetar a qualidade do produto. Não há nada que vá parar ao carrinho que não seja encostado ao narizinho antes.

2) Os apalpadores
Ora vamos cá ver se este pão está bem ou mal cozido. Apalpa um saco, apalpa outro. E claro que só à décima apalpadela é que se faz a escolha. Entretanto, o cliente que vem a seguir leva para casa pão todo apalpado.

3) Os acidentados
Não há prateleira que não leve com o carrinho ou cesto de rodas destas pessoas. Olhar para a panóplia de produtos ao mesmo tempo que se conduz não resulta. Para além de que o marketing desvia a direção das rodas de propósito para o comprador levar o produto em que embateu. 

4) Os saudáveis
Circulam apenas nas zonas dos legumes, frutas e produtos dietéticos. Não há bolacha integral que não conheçam. E aproveitam para fazer um jogging enquanto evitam dar de caras com Donuts e Bollycaos. 

5) Os distraídos
"Mas onde é que eu deixei o carrinho?" É uma questão que fazem várias vezes no tempo que passam no supermercado. Não há trânsito que resista a esta categoria, porque deixam as compras no meio dos corredores onde outros compradores vão querer circular.

6) Os organizados
Contrariamente aos distraídos ninguém faz farinha com eles. De lista e caneta na mão não se deixam conquistar pelo 'leve 2 pague 1'. Na lista só diz quatro iogurtes, para quê levar oito?

7) Os birrentos
Normalmente associados a pessoas entre os 0 e os 5 anos. Mais conhecidos por crianças, estes seres recusam-se a largar a prateleira dos brinquedos e estão prontos para gritar num tom tão agudo que os senhores do armazém vão ouvir. Alguns também fazem de esfregona.

8) Os devoradores
Ainda não passaram as portas de vidro que abrem sozinhas e já estão a pensar no petisco que lhes apetece. Pacotes de amendoins, batatas fritas ou bolos secos. Tanto faz, desde que se mate o ratinho no estômago e se possa ir até à caixa com menos um artigo para pagar. 

9) Os famosos
Todos os conhecem e conhecem todos. São tão conhecidos que têm de parar em pleno corredor em amena cavaqueira. Impedindo o caminho dos pobres anónimos que só querem chegar à manteiga. 

10) Os desistentes
Eles até iam levar aquela palete de bifes de peru, mas a crise toca a todos. Como tal, antes de chegarem à caixa, optam por deixá-la em cima do pack de cervejas. Nunca se sabe se o próximo a passar por ali não vai fazer uma churrascada e precisa de comprar os dois produtos.

terça-feira, 7 de abril de 2015

#ressaca

Ontem cheguei aos 22. Hoje estou a ressacar. 

Já estás a pensar que fui para a vida 'loka', mas não! Estou a ressacar de açúcar. Mais precisamente, de bolo e amêndoas. Fazer anos a seguir à Páscoa não dá com nada. O consumo de doces já começou há duas semanas e este fim-de-semana foi a loucura no mundo do glícidos. 

Nestes dias festivos corta-se no pequeno-almoço para almoçar à grande, na companhia da família. Vêm as entradas e o estômago até dá saltinhos de felicidade. A seguir, o prato principal apresenta-se e, como o pão caseiro com aquele queijo de cabra de Serra com aroma a peúga já encheu, faz-se um esforço para provar um pouco de tudo. Afinal é dia de festa. Com a refeição terminada, chega a hora das sobremesas. E aí nada importa. Já passaram uns quantos alimentos pelo esófago abaixo, mas há sempre um espacinho para a mousse de chocolate, a tarte de natas e o bolo com cobertura. Afinal continua a ser dia de festa. 

Agora cá estou. De barriga inchada a pensar seguir os conselhos da Shakira. Mas feliz, porque ainda há bolo no frigorífico. 

Fotografia: Raissa Grossi