domingo, 21 de setembro de 2014

#aidadetudotraz

Esta semana cheguei, muito descansada, à paragem do autocarro perto das Amoreiras e reparei que faltavam imensos minutos para o autocarro chegar. Limitei-me a esperar, também não havia grande coisa a fazer. Uns segundos depois chegou uma senhora que aparentava ter 80 anos. A andar devagarinho, muito curvada, com o cabelo branco curto e uns óculos redondos. Veio para o mesmo canto da paragem que eu, com uma malinha de mão, e mal olhou para o contador dos minutos perguntou:

- O quê? Faltam estes minutos todos?

E eu respondi.

- Sim, é verdade. Está demorado...

A senhora começou a comentar o mau tempo, os atrasos dos transportes e outras coisas da vida e eu continuei a responder-lhe. As restantes pessoas que estavam na paragem olhavam, mas ninguém se meteu na conversa. Passados uns dez minutos chegou outra senhora que vem ter com a primeira e diz-lhe muito alto:

- Então? Como é que está?

E a senhora responde:

- Oh Manuela! Está boa? Também veio ao centro comercial? Não a vi lá dentro.

E a segunda senhora, que entretanto percebi que se chamava Manuela, responde novamente muito alto enquanto gesticula:

- Não! Hoje não fui ali. Vim tratar de uns assuntos... Então as nossas netas vão ser colegas!

A primeira:

- Ah sim, a minha neta foi para França. Arranjou lá trabalho.

A Manuela:

- Não, a neta mais nova é que é colega da minha neta no ISCTE. A sua neta não estuda lá?

A primeira senhora responde:

- Ela arranjou dois contratos e disse "oh avó lá é que ganho dinheiro, cá não há nada."

E a Manuela:

- Oh senhora estou a falar da segunda neta (enquanto fazia dois com os dedos), a outra neta. Não está a perceber nada.

E a senhora vira-se para mim e diz:

- É que sabe, eu sou surda. 

A Manuela limitou-se a desistir e quando o autocarro chegou acenou com muita alegria para a senhora. Eu continuei lá à espera, assim como a senhora com problemas de audição, enquanto pensava com os meus botões "estive a conversar dez minutos com esta senhora e ela não ouviu nada do que eu disse". Depois ela voltou a conversar comigo e pensei "então e agora? Falo ou digo que sim e sorrio?" Optei pela segunda hipótese, porque dissesse o que dissesse a senhora não ia ouvir nada...

Fotografia: Inês CR

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